20 janeiro 2011

O Menino do Quarto "Escuro"

imagem por Robert Frank "Quarto Escuro 01"
disponivel em: 
http://www.flickr.com/photos/robertfrank/368995427/in/photostream/


O MENINO DO QUARTO "ESCURO"

Estava escondido em um quarto escuro. Escondia-se debaixo da cama e sobre ela havia alguns livros abertos, papel branco e uma caneta.
O chão era simples, rústico igual às paredes e não havia muitas mobílias naquele cômodo.
Ele parecia estar muito amedrontado, chorava e talvez em sua mente passasse apenas a imagem de sua mãe, a única pessoa a quem ele pudesse estender a mãos.
Pessoas aproximavam-se com pisadas fortes, pareciam estar enfurecidas. Gritavam muito e também xingavam aquele menino. Entraram arrebentando a porta do quarto fazendo um grande barulho. Derrubaram uma pequena prateleira de livros que estava em um canto de uma das paredes, chutaram uma cadeira e desarrumaram o lençol.
Ele ficou ali embaixo da cama, segurava o choro para não o ouvirem. Fechou os olhos e no mesmo instante veio a imagem de Cristo e logo a de sua mãe e de seus irmãos. Desejou profundamente – tão fundo que seria impossível qualquer homem mensurar a profundidade – estar próximo de algum amigo ou alguém que o pudesse escondê-lo.
_ Ah! Então você está ae! – Um homem exclamou com uma voz rouca e muito exaltada. Puxou-lhe pelos cabelos e tirou-o do seu esconderijo.
Antes mesmo que pudesse se virar, aquele garoto levou vários murros nas costas e mais dois rapazes se aproximaram e começaram a chutá-lo. Sua mãe estava em pé ao lado da porta e chorava olhando aquela cena.
Levantaram-no e deram um soco no rosto. Estava com muito medo e não sabia para quem pedir ajuda. Levaram-no para fora da casa e o jogaram no meio da rua de barro.
Havia muitas pessoas, e traziam pedras nas mãos. Próximo havia também algumas árvores e tinha frutos nelas, mas não deu para ele reconhecer que frutos eram.
Ninguém se calava e, em meio aquela gritaria, ele olhava para aqueles rostos desfigurados e cheios de ódio, reconheceu um amigo – o seu melhor amigo. Estendeu a mão em sua direção suplicando ajuda.
_ Você conhece ele? – Uma mulher perguntou raivosamente.
_ Não. Não senhora. – Respondeu o outro menino falando muito baixo. E olhou para o amigo com os olhos de quem pede desculpa por não pode fazer nada.
Começaram a atirar pedras naquele filho de Deus caído no barro. Ele gritava do fundo de sua alma. Enquanto sua mãe escondia o rosto para não ver ou talvez, para não ouvir.
_ Pai! Pai! Me ajuda! Mãe! Mãe!!!
Não havia muitas pedras e quando elas acabaram, aquelas pessoas usaram as próprias mãos e os pés. Agrediram aquele menino até a morte. Enquanto faziam o que fizeram, gritavam o mesmo Nome a quem o garoto deveria estar pedindo ajuda. E a esse Nome era dedicada tal ação.
Realizaram tal ato sem derrubar, exteriormente, uma única gota de sangue. Não deixaram um único hematoma externo e nem causaram, se quer, uma fratura (de ossos).

Samir S. Souza
Publicado no Recanto das Letras em 20/01/2011
Código do texto: T2741342



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2 comentários:

Anônimo disse...

Meu Deus quanta crueldade! O que foi que esse menino fez?

Eva Rocha disse...

Parabéns senhor Rimas!!! o Blog tá lindo, vou lendo-o aos poucos, gota a gota para saborear lítera a lítera