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ENFERRUJADA PELA MARESIA
Ela mora na grande cidade e ele sempre morou no litoral. Conheceram-se
pela internet, nessas salas de bate papo. Logo trocaram números de telefone
celular e endereços para mensagens instantâneas também pela internet.
Sueli é o seu nome, trinta e três primavera, estatura
média, branca, olhos castanhos escuros, cabelos de um louro castanho ou
castanho louro propriamente dito. Acha-se um pouco acima do peso, mesmo com
todos seus amigos e familiares afirmarem que está ótima e não tem o que
emagrecer. Trabalha como vendedora em alguma loja na 25 de Março e está prestes
a tirar suas férias.
Marcos é o nome dele, trinta e oito verões, branco da
pele queimada, olhos esverdeados e cabelos lisos. Não tem os músculos inchados
e nem murchos, um homem atraente e galanteador. Dono de seis quiosques e três
imóveis – dois deles alugava para turistas – o maior deles é feito de sua
moradia, esta por sua vez, localiza-se próximo a outra praia não muito
freqüentada pelos banhistas.
Um ciclo de quatro semanas percorridas por completo.
“Falavam-se” todos os dias e preferiam usar, com mais freqüência, os sms, já
que são mais baratos do que a ligação de celular. Já se atendem por apelidos e
outro termos banalizadamente carinhosos – “’amore’, amor, meu anjo, Su, Má e
qualquer coisa que possa florescer das mentes inundadas pela paixonite cegante.
Como quase todos os seres vivos, os humanos também
têm suas necessidades fisiológicas e uma delas é a satisfação por meio de
terminações nervosas localizadas em pontos estratégicos do corpo. Aparentemente
essa necessidade é mais sentida pelos humanos, em especial o homem, mas quando
ficam por um longo período sem a satisfação provocada e realizada junto ao
outro, todos passam a tê-la na mesma proporção sem moralismos. Logo na primeira
semana de contatos, já conversavam sobre satisfações e algumas formas de
consegui-las.
Com uma semana de comunicação e sem saber muito sobre
tecnologia, Sueli comprou uma webcam a
pedido de Marcos cuja sua, às vezes, era ligada para que sua donzela pudesse
vê-lo. Depois de instalada, conversavam ambos com suas “cams” ligadas e após alguns dias, no embalo das conversas
sobre satisfação, Marcos mostrou seu pênis e ela sua vagina. Masturbaram-se
até. A “cam” dela não tinha uma imagem
muito definida e tal fato fez com ela descrevesse detalhadamente dando cor,
volume, aromas, textura.
Como já estava virando costume, conversavam quase
todos os dias, também, pelo telefone.
_ Nossa, você é muito linda.
_ Obrigada, mas não sou tão bonita assim.
_ É sim, uma moça para casar.
Ela riu desconcertada.
_ Que foi que você riu?
_ Nada, é que você é muito charmoso.
_ Sou nada, você vai ver quando vir pra cá. Cuidado
para não se assustar.
_ Já te vi pela webcam e na verdade eu te achei muito bonito.
Ele riu.
_ Você também. E que xoxotinha linda que você tem.
_ Assim você me deixa envergonhada.
_ Adoro essas com vergonha, eu sei bem como deixá-las
à vontade.
Sueli não gostou muito de ouvi as palavras
“deixá-las”. Sentiu certo desconforto, no entanto, preferiu não dar muita
atenção para.
_ Sabe é? Mas eu sou muito tímida.
_ São dessas que eu gosto. Alias você não me disse o
que achou...
_ Achei? Achei o quê?
Ele riu um pouco sem graça: _ Você sabe, eu vi você e
você me viu, entendeu?
Depois de rir mudamente Sueli respondeu exatamente o
que Marcos queria ouvir:
_ Eu achei muito bonito, e olha que sou chata pra
isso. – Ressaltou algumas características e adjetivou da forma que quase todos
os homens adoram ou adorariam ouvir alguém falar sobre seus orgulhos ou nem
tanto orgulhoso assim.
O tom de voz dele mudou, ficou mais animado, mais
inflado e ela percebeu, mas não disse nada e só continuou a conversa que durou
cerca de treze minutos.
_ Olha Su, eu estou curtindo bastante você, estou
doido para você passar o feriado aqui comigo para gente se conhecer melhor e
sair do virtual.
_ Claro que vou, estou muito ansiosa para conhecer
meu futuro homem.
Silêncio
_ Alô? Está aí?
_ Estou sim minha deusa, acho que a ligação está
cortando. Vou desligar ta bom? Mais tarde agente se fala mais pela net.
_ Está bem.
_ Tchau minha linda, gosto muito de você viu?
_ Eu também estou gostando de você.
_ Tchau.
Três dias depois, um domingo, Sueli saiu de férias e
coincidentemente na semana do feriado prolongado, próxima quinta. Marcos e
Sueli conversaram bastante pela internet e resolverem detalhes para o primeiro
encontro deles. Ele a esperaria na rodoviária e ela passaria o feriado e o
final de semana todo com ele.
Ele a esperava de carro, um palio branco. Ela sorriu,
ele permaneceu sério até que ela chegasse mais próximo para então sorrir e
cumprimentá-la com um rápido beijo. Parecia que ela não era exatamente o que
ele esperava, mas sabemos e ouvimos dos homens que eles não dispensam, uma vez,
que tal ação representa uma vergonha tamanha para muitos que se esforçam
cansativamente para achar que conseguem chegar ao pico da montanha ou até a
nascente do rio.
Era aproximadamente onze horas da manhã. O litoral estava
cheio de turistas e foram juntos comer em um dos quiosques de Marcos próximo à
areia da praia e depois foram para casa dele próxima a outra praia menos
freqüentada por banhistas. Estava muito quente, e Sueli ficou encantada com o
imóvel do seu suposto namorado, ficou a maior parte dos primeiros momentos na
sala, um espaço grande, com um grande e largo sofá, algumas almofadas sobre o
chão, um grande e aveludado tapete branco, uma imensa janela de vidros para a
praia quase deserta. Por ela podia ver-se um ajeitoso jardim próximo a vidraça,
uma baixa cerca de madeira e mais ao fundo, uma grande montanha coberta de
verde e aos seus pés uma areia cor de pele sobre onde ondas vinham e iam num
balanço leve e delicado e um grande coqueiro quase curvava-se ao lado oposto da
montanha já um pouco mais próximo da residência. Sueli, ali, parada em pé,
encantada com a paisagem que via, ainda estava um pouco desconcertada e pensava
o quanto estava sendo louca e imatura. Esperava pelo término do banho de
Marcos.
Ele chegou enrolado em uma toalha branca, sem camisa
com os cabelos molhados. Pediu desculpas pelo traje e se justificou dizendo que
esqueceu de levar sua roupa para o banheiro já que não tem o costume de
fazê-lo. Ela ficou meio sem graça e suas bochechas coraram um pouco. Marcos
dirigiu-se para o quarto, mas logo fez uma expressão de quem acaba de se
lembrar de algo e foi para a cozinha do lado oposto da sala sugerindo à Sueli
que ficasse a vontade e perguntando se ela queria beber alguma coisa. Ele
trouxe uma latinha de refrigerante e na outra mão trazia uma pequena garrafa de
cerveja fechada. Entregou a latinha à moça e abriu a garrafa com a mão. Ela
podia ver o volume pela toalha que estava, naquele momento, um pouco molhada e
não sabia se olhava para o peito normal com pouco pelos, ou para toalha ou para
seus olhos esverdeados. Era nítido que ela estava sem graça.
Um surpreso beijo veio à tona, estavam ambos em pé. Ele passou um dos
braços pela cintura dela e a puxou contra o corpo dele. Ela que segurava a latinha
com uma das mãos a frente do corpo fez ele se arrepiar com o gelo do objeto
contra o peito. Riram e ele após colocar sua garrafa sobre um dos móveis que
estava próximo, pegou da mão dela a lata e a colocou sobre o mesmo móvel.
Beijavam-se e com suas mãos fortes segurava a nuca dela. Sentaram no sofá e as
pontas dos dedos de ambos percorriam os dois corpos e acariciavam um ao outro
de forma honesta. Entregavam-se um ao outro. Logo ficaram despidos e
beijaram-se mais e ela passou seus lábios em todo o corpo dele e ele fez o
mesmo no corpo dela. Estava quente, já estavam deitados no sofá, ele embaixo
dela, segurava seus cabelos e beijava sua boca. Ele se sentou e ela ficou no
colo dele de frente. Observavam o corpo um do outro e juntos passaram um início
de tarde romântico e realmente carinhoso. Amaram-se de forma que se tornou
eterno nas lembranças de Sueli que nunca fora tratada de tal maneira, com tanto
carinho, respeito, desejo e amor. Cochilaram enquanto o sol quente banhava o
mar que banhava a areia que cumprimentava o coqueiro que olhava para o jardim
onde as rosas, flores e o capim cochichavam.
Naquele mesmo final de tarde, foram até a praia e
ficaram juntos assistindo ao por do sol. À noite, fizeram amor novamente, mas
de uma forma mais libidinosa. Ela atendeu aos pedidos dele, enfiar até a
garganta, ficar de quatro. Ele atendeu aos pedidos dela, lambê-la, dar batidinha no rosto dela, lambuzá-la o rosto. Esse último desejo causou-lhe
surpresa, mas o atendeu todo excitado e contente pelo pedido. Juntos fizeram
quase tudo o que podia vir de suas mentes, suas fantasias e tal cena repetiu-se
também nos próximos dois dias – sexta-feira e sábado.
Ela ficou desapontada no sábado à noite quando Marcos
disse que ela teria que voltar para a grande cidade no domingo pela manhã, os
motivos apresentados por ele foram relacionados ao trabalho dele e uma viagem
ao litoral extremo norte. Sueli percebeu que não tinha o que fazer a não ser
voltar. Depois de arrumar suas coisas e de conversarem um pouco tentou ser
tratada como foi pela primeira vez que chegou ali. No entanto, não conseguiu
sentir que aquele ato fosse idêntico ao primeiro. Mas se sentiu realizada na
medida do possível e teve dois orgasmos e um deles foi quando Marco a
masturbava enquanto brincava de se esfregar em suas nádegas. Sueli recusou um
dos pedidos dele que insistiu umas três vezes, mas em vão.
Acordaram às cinco e meia da manhã, ela foi levada à
rodoviária, beijaram-se rapidamente e se despediram.
_ Gostei muito de te conhecer Su.
_ Eu também, estou louca para te ver novamente.
_ Nossa nem me fala, só de imaginar você rebolando na
minha vara de novo hein.
Ela riu e ficou sem graça:
_ Eu adorei aquela nossa primeira vez.
_ Eu também, algo especial não é? Um momento especial
com uma mulher especial.
_ Quando nos veremos novamente?
_ Olha eu vivo um pouco na correria, mas vamos nos
falando.
Despediram-se. Ela entrou no ônibus e pegou a
estrada. Ele voltou para casa, tirou sua calça, depois a camiseta e só de cueca
voltou a deitar para dormir mais um pouco. Mais tarde, foi à praia, deu um
mergulho, comeu em dos seus quiosques e flertou um pouco com uma linda turista
de pele negra com curvas bem salientes, cabelos todo em finas e cumpridas
tranças. Ela ficaria só mais algumas horas no litoral, mas era o suficiente
para juntos satisfazerem-se por terminações nervosas.
No mesmo dia, mais tarde, Sueli tentou ligar para
Marcos, mas seu celular dava fora de área. Não o encontrou na internet. No dia
seguinte, o telefone dele tocou, mas não atendeu. Sueli já entendia o que
acontecia e sentiu raiva de si mesma e de Marcos. Quando pela força da
teimosia, conseguiu falar com seu amado.
_ Oi Su.
_ Oi amore, tudo bem?
_ Tudo sim e com você?
_ Estou bem, estou tentando falar com você esses
dias, mas...
_ Olha minha deusa, agora estou um pouco embaçado
aqui com um problema em um dos quiosques. Posso te ligar depois?
_ Pode sim, claro.
Sueli tortura-se por achar que deveria ter deduzido
isso ou aquilo, que deveria ter feito isso ou não ter feito nada. Que poderia
ter mais beleza ou talvez um pouco mais de dinheiro. Por vezes, queria ter
nascido homem. E ainda espera pela ligação.
Samir S. Souza
Publicado no Recanto das Letras em 01/01/2011
Código do texto: T2703054
Código do texto: T2703054
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