Sobre



Música: Piercing
Artista: Zeca Baleiro






"Se alguém te perguntar o quiseste dizer com um poema, 
pergunta-lhe o que Deus quis dizer com este mundo..."
Mario Quintana



Se alguém me perguntasse o porquê eu escrevo ficaria sem uma resposta clara e direta. Creio que ninguém sabe dizer exatamente porque ou como fazer certas coisas. Seria o mesmo que perguntar a um cantor ou cantora porque eles cantam ou como cantam. Claro que os ouviríamos dizer que cantam porque gostam ou se sentem bem cantando, da mesma forma que me sinto bem escrevendo. O problema não é escrever, cantar ou dançar. Isso todos são capazes de fazer, o grande X da questão [por que X da questão? Não seria melhor o grande ‘?’ da questão?] é que nem todos aqueles que cantam, fazem-no bem [visto por alguns padrões estabelecidos pela sociedade] e o mesmo se estende a escrever, dançar, cozinhar, correr, nadar, jogar, transar, etc. Praticamos todas essas atividades como meio de exorcizar alguns males que se prendem a nós como o estresse, e seria muito triste se nos preocupássemos com o que pensariam dos nossos talentos, claro que todos adoraríamos ser reconhecidos, mas me sinto por satisfeito ter grandes amigos ao meu lado dizendo me admirar.   

Eu na verdade não acho que eu escrevo bem e nem me considero escritor. Não sei se meus amigos não querem me magoar, mas me incentivam a escrever e praticar tal exercício. Não sei como escrevo, mas tenho a preocupação de pintar a imagem de forma mais clara possível para que quem esteja lendo possa visualizar nitidamente de modo que eu possa diminuir os riscos de má incompreensão. Na verdade não é bem uma incompreensão, temos a tendência de enxergar as coisas de acordo com o nosso “mundo”. Em uma terra onde só há carecas, o rei seria cabeludo? (Mas é uma grande incoerência esquecer que o mundo não gira em torno de nós ou de nossas vontades e que há outros milhões de "mundos" e cada qual com suas diferenças e peculiaridades e que é grande ignorância e medo achar que esses mundos não possam interagir-se pacífica e respeitosamente).

Se eu escrevo e alguém entende fubá, está tudo bem, desde que o leitor não tente vender o fubá em nome do autor. Sabemos que cada pessoa que lê um conto ou um poema contextualiza esses textos de formas diferentes, e isso acontece com qualquer escrito, afinal, o autor não tem a pretensão de explicar exatamente o que tinha em mente quando escreveu e é exatamente isso o que fascina os amantes pela leitura, poder abrir um leque e percorrer em um único texto várias perspectivas aguçando o modo de ver o mundo e o homem (aqueles que estão dispostos a ver/enxergar/olhar/observar).

Há tantas pessoas tão talentosas e com uma visão tão ampla, mas que são ignoradas ou deixam de escrever por não se sentirem motivadas e tudo por um fato horrível que é visto de forma tão normal. Fato esse ligado a uma poeira cinzenta [poeira mesmo, o que é bem diferente de massa] e alimentada por argumentos sem nenhum fundamento concreto que visam apenas benefícios materiais.

Como já ressaltei, eu não sei o porquê eu escrevo. Mas posso afirmar que sei por que escrevo tal texto. O fascinante do poeta e do romancista é que ele faz críticas à sociedade que precisam ser procuradas nos seus escritos, algumas são claras outras são mais disfarçadas. O autor não critica por se achar superior, pelo contrário, ele critica por saber que também faz parte de um todo. É muito interessante ver certas cenas tão comuns do nosso dia-a-dia de outro ponto de vista e perceber que a realidade pode ser dividida em milhares de pedaços. No entanto, é fácil perceber que muitas pessoas estão tão acostumadas ao senso comum que não conseguem ver detalhes tão lindos e graciosos na sua simplicidade e chegam até debochar ou condenar algumas pessoas. Situação essa que consegui traduzir no conto “A Poesia Instantânea Disfarçada de Dialogo”.

Tenho como objetivo com esse blog, publicar apenas os meus contos sem dar prioridade aos meus poucos poemas (é o nome que eu os dou) e os raros que, por ventura (assim pretendo), forem publicados, será por terem seu aspecto bem descritivo, como se o leitor estivesse mesmo lendo um conto, mas em um esqueleto de poema, vemos isso nos dois poemas Eu Te Escondo (Personificação da Vida)” e Eu Te Mostro (Personificação da Morte)”. Será raro ler qualquer conto de amor, não consigo escrevê-los, os poemas amorosos são mais fáceis de escrever, mas nunca foram da minha aptidão, é mais fácil escrevê-los do que senti-los.

Encontrei nos contos, uma forma de promover a reflexão do papel do homem em sociedade, tento dessa forma tirar, cuidadosamente, o máximo de pintura que nele (homem) é colocado. Não quero dizer ou que pensem que estou escrevendo a Verdade, eu não a tenho, assim como NINGUÉM a tem também, mas tento descrever a realidade de forma mais honesta e não cheio de eufemismos ou valores morais que muitas vezes apenas servem para esconder alguns fatos.

Quero ressaltar ainda, que me sinto muito lisonjeado com a leitura dos meus textos e isso se aplica em gostá-los ou não porque de ambas as formas sempre há um jeito de dividir as idéias. Há um provérbio chinês que descreve essa contribuição. Não o lembro muito bem, mas tentarei contá-lo rapidamente:

Se dois homens carregam um pão cada e resolvem trocar os pães, cada um deles voltará para casa com um pão. Agora se dois homens carregam um pão cada e resolvem trocar os pães e uma idéia, voltarão para casa, cada um, com um pão e duas idéias.

Agradeço carinhosamente pelas leituras e “sintaxe a vontade ¹

Samir Souza
 
1- Música da banda O Teatro Mágico.