desenho de Pontoelinha (PE)
ESCREVER A MÃO NA BEIRA D'UM PENHASCO
Beirava à loucura. Foi até a cozinha e bebeu água. Estava sedenta, uma
breve linha d’água escorreu por entre os seios brancos e joviais. Sentiu-se um
pouco aliviada e enquanto ouvia-se as goeladas d’água, acariciava com a mão
esquerda o bico do seu mamilo direito.
Voltou ao seu quarto logo após ter ido ao banheiro.
Arrumou o lençol e deitou-se. Virou para a parede, depois de fechar os olhos,
sua visão se inundou de imagens, desejos e sentimentos que, a cada minuto,
tornavam-se mais reais ao ponto de sentir arrepios.
Mexia-se muito e estava naquele momento imaginando o
rapaz que sentara ao seu lado, no banco da igreja. Imaginava-o segurando sua
mão, um breve namoro e por fim, casados. Imaginava como seria o seu brinquedo e
que sensação teria em senti-lo entrando nela. Sua língua movia-se dentro de sua
boca: um beijo, agora uma chupada. Em uma fração de segundos, o rapaz da igreja
deu lugar à imagem do pastor. Tinha uma curiosidade monstruosa do que estaria
por baixo daquele terno azul marinho e forçava imaginar, aquele homem que
achava bonito, urinando em suas pernas. Estava descabelada, e a coberta cobria
apenas uma de suas pernas. De olhos fechado para o teto, seus dedos percorriam
seu corpo todo, e em suas pontas, havia um mágico poder capaz de propiciar
profundos e anestésicos arrepios. Já não era mais surpresa o seu corpo molhado,
mas se assustou quando achou que tivesse urinado na cama.
No dia seguinte, acordada e apressada pela sua mãe
para não se atrasar, ficou um pouco triste ao abrir os olhos, porém, preferiu
imaginar que seu homem já havia levantado muito cedo para o trabalho e deu um
cheiro e um beijo no travesseiro.
Chegava até imaginar como seria ser amada por alguns
dos seus professores, mas nada se comparava aos seus mais íntimos desejos que
tornavam-se reais em algumas noites que pareciam ser intermináveis.
Loira, pele branca, magra e estatura média, Crêu era
muito obediente aos seus pais e fazia questão de mostrar a todos o quanto era
boa e o quanto era inocente. No entanto, ela mesma sabia que sua inocência
vaporava-se em meio ao calor da sua imaginação que fervia sobre seus lençóis e
molhava as pontas de seus dedos.
Sentada no banco detrás, voltavam de um culto, seu
pai dirigia e sua mãe parecia não saber o que era silêncio. Observava seu pai
pelas costas e reparava em todos os gestos que era preciso fazer para dirigir,
trocar a marcha, pisar na embreagem, no freio, olhar pelo retrovisor e ao mesmo
tempo conversar com ela e sua mãe. Observava o pé-do-cabelo bem feito, os
ombros largos e sua voz rouca e autoritária e por alguns segundos veio a sua
mente a imagem inventada do que seu pai guardaria dentro das calças.
Seu rosto corou-se, e envergonhada olhou para sua mãe
cujo cabelo era liso, longo e de um castanho claro. Admirou os gestos delicados
de sua mãe e orgulhou-se dela por ter bom gosto para homens. Seus pensamentos,
de repente, tornaram-se pesados e aterrorizantes, seu medo do pecado fez com
que olhasse para os carros à frente e desviasse seus pensamentos para o que
precisava fazer quando chegasse em casa.
Jantaram todos juntos em volta da mesa, seu pai, sua
mãe, seu irmão mais velho e uma amiga que viera para estudar juntas. Aquele
pôr-do-sol foi cheio de risos, cochichos e algumas confissões de amigas.
_ Ah, não fale assim do seu irmão...
_ E por quê? – perguntou rindo.
_ Por nada, só não creio que ele seja igual a todos
os outros homens...
_ E por que não? – ainda rindo.
_ Não sei, apenas acho que não.
_ Mas são todos iguais!
_ Crêu posso te fazer uma pergunta? – em tom de
segredo
_ Faz.
_ Mas promete que não vai ficar com raiva de mim?
_ Talvez. Prometo vai.
_ E que não vai contar pra ninguém?
_ Fala logo, estou ficando curiosa.
_ Você já viu o seu irmão pelado? Como é? –
cochichou.
_ Ah sua safada! Meu irmão! Então é por isso né –
demonstra surpresa em meio a risos.
Crêu chegou a repreender sua amiga pelos pensamentos
sórdidos e depois de conversas e da despedida da amiga e do sol. A noite
apresentou-se para velar as casas e se tivesse sorte, o sono de alguns mortais
que, por ventura, esquecem a janela aberta.
A noite estava quente, e quente estavam os
pensamentos de Crêu. Temia por esses pensamentos porque sabia que eles o
tiravam o sono. As imagens criadas pela suas fantasias eram claras e nítidas.
Eram mais que sonhos de olhos abertos, eram verdades que não aconteceram.
A sua noite épica iniciou-se com a imagem da mãe
acariciando o pai e logo depois imaginou ela mesma acariciando o pastor que lhe
ensinava com um tom de voz pesado e um pouco prolongado como fazer as carícias
e onde acariciar. Imaginou ser presa por um policial e questionou-se se Jesus
estaria observando-a.
Suas fantasias pareciam mais correntes que a prendiam
ao limite da ilusão e realização, do pecado e salvação. Sentia cala frios que a
davam uma gratidão de ter nascido mulher e seus ensinamentos davam o peso do
medo, da vergonha e da condenação que talvez pudesse ter.
Gemia, e seus dedos já possuíam vida própria. As
imagens se tornavam cada vez mais reais dentro de seus sonhos e os arrepios
eram os sinais de que nada estava errado. Imaginou uma fileira de quinze
rapazes, todos nus com seus corpos balançando, seus pelos e seus olhares
penetrantes de selvagens caçadores. Tinha em sua mente, cada detalhe dos
corpos, e questionava-se porque alguns se recobriam e outros não.
Estavam todos prontos, suando, rindo e dizendo
safadezas. Ela estava de joelhos enquanto faziam um circulo em sua volta.
Alguém se agachou junto dela e ela sentiu um abraço quente e anestesiou-se com
aquele arrepio. Sua fantasia cresceu ao ponto de estourar-se e tudo – as
imagens, seus sonhos, seu sono – murchou. No dia seguinte, acordou disposta,
mas sentia uma ponta fina de arrependimento e nem ela sabia o porquê.
Algumas semanas passaram-se e tudo se mantinha
normal. Crêu conheceu um belo rapaz, e após a autorização de seu pai, começaram
um namoro, no entanto, não respeitavam as regras impostas pelo pai dela e
escondidos beijavam-se a quase engolirem-se, amassavam-se a sentir o inchaço
pulsando.
Em meio à euforia, os dedos dele já colocaram seu
instrumento para fora das calças e caminhavam pelo corpo dela. Ao sentir o dedo
do seu amado a entrar-lhe, Crêu assustou-se e com um empurrão, afastou-se de
seu namorado e ao demonstrar insatisfação em vê-lo sem vergonha, gritou que era
moça de família e deu-o um forte tabefe no rosto.
Antes de entrar em casa, Crêu teve o cuidado para
enxugar suas lágrimas para não perguntarem nada e no seu quarto, deitou-se de
rosto para o teto, lembrou do que vira e de olhos fechados deixou os seus dedos
adquirirem vida.
Samir S. Souza
Publicado no Recanto das Letras em 28/11/2010
Código do texto: T2641358
Código do texto: T2641358
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, fazer uso comercial da obra, desde que seja dado crédito ao autor original (Samir S. Souza - www.contoando.blogspot.com). Você não pode criar obras derivadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário