06 janeiro 2011

Esconder/Mostrar (As Personificações)

 
Música: Hide You
Banda: Kosheen
Ano: 2001.

Foto de Marco Pajola













EU TE ESCONDO 
(PERSONIFICAÇÃO DA VIDA)

uma garoa fina e gelada
pessoas andam de lá pra cá
luzes se refletem no asfalto
um mundo a ser explorado
o céu está negro
pessoas dormem ou não...

muito barulho, vibrações
tomam conto do corpo
luzes te cegam, sons te surdam
pessoas, pessoas e pessoas
há um oceano de corpos estranhos
cada qual com suas belezas

centenas de destinos
grandes, pequenos, magros, gordos,
lisos, peludos, novos, maduros,
grossos, finos,
coroudos, coroinhas,
sementonas, sementinhas
há uma Vida aqui...

o céu está negro...
a Noite vela o sono...
acompanha os zumbis vivos
(ou zumbis são os que dormem?)
risos, gritos, choros
prédios, residências, moteis, hoteis...
boates, saunas...

briga na esquina,
prostituas assobiam
travestis caminham sorrindo
políciais...
bebê chora...
o silêncio é tão gritante à noite
barulho de garrafas,
Música, a batita vibra na veia

mãe dorme preocupada
pai quer trepar
jovens se masturbam
computadores ligados
pessoas sem coragem de sair
pessoas do lado de fora
pessoas caminham
buzinas, buzinas, buzinas...

garoa grossa e fria...
mulheres de saia curta
luzes se refletem no asfalto
buzinas...
banheiros públicos esconderijo
homens mijam
homens olham
homens pegam

mulheres sem calcinha
homens e seus dedos
pessoas, pessoas e pessoas
a noite é cheia de vida
ambulância com pressa
garoa fina e fria
luzes se refletem no asfalto

prédios guardam segredos
gigolôs na praça
bares, cerveja, música
música, a batita vibra na pele
pênis para fora,
vaginas lambidas,
camisinhas usadas...

briga na esquina
gritaria...
homens dançam
mulheres ficam nuas
boates e seus artistas
muitos espectadores
sexo ao vivo
homens penetrando em homens
mulheres gozando em mulheres

briga na esquina
homem valentão
namorada chorando
garoa, garoa?
bandas tocam
a Música tem vida própria

residências guardam segredos
bebê chorando
criança dormindo
papai e mamãe...
cachorros latem
o galo canta...

o céu rosado silencia a Vida
pessoas com destino certo
a Música está cansada
cachorros latem
cheiro de café com leite
pão acabado de sair do forno
padaria aberta
pessoas...

carros, caminhões, onibus
cansaço
pênis, vagina, porra...
no céu, o Sol beija o resto da Noite
silencia a Música
vibração se torna peso
as luzes se apagam
não há mais Vida
não há mais Beleza

hora de dormir.

carros, gritos, buzinas,
pessoas vão e vem
pessoas vão e vem
carros, gritos, buzinas,
assaltos
carros, gritos, buzinas,
calor, secura, água
carros, gritos, buzinas
carros, gritos, buzinas

fim do mundo?
não! apenas um espetaculo amordaçado
nada de novo,
tudo se repete de um passado muito distante
inferno?
não... é a velha Vida escondida
errado?
não... é o que é...

Samir S. Souza
Publicado no Recanto das Letras em 06/09/2010
Código do texto: T2480920



foto por Naid Melo de Moura














EU TE MOSTRO 
(PERSONIFICAÇÃO DA MORTE)

garoa fina na telha
cachorros latem ao longe
luzes se refletem no asfalto
um mundo mistificado
o céu está negro
pessoas dormem ou não...

muitas Ausencias, Depressões
inundam sonhos
Esperanças se calam, Esperas se prolongam
pessoas, pessoas e pessoas
há um oceano de corpos estranhos
cada qual com suas Correntes

centenas de Vontades
agora, ontém, amanhã, nunca,
passado, futuro,
vida, morte, inferno, céu
purgatório,respostas,
verdades, certezas
a Morte está aqui...

o céu está negro...
a Noite vela o sono...
deita-se ao lado dos putos
(ou puto é Aquilo que deita?)
pratos, copos, talheres
tvs ligadas, residências, ruas
luzes no asfalto

passos acelerados no concreto
casal discute
cachorro late ao longe
crianças...
bebê chora...
o Silêncio é tão morbido à noite
barulhos estranhos,
fantasmas, assombrações ou ladrão?

pessoas cansadas dormem
pessoas cansadas trepam
jovens se perdem em sonhos
televisores ligados
ruas desertas
uma luz azulada foge
por algumas janelas

rezinhas antes de dormir
histórinhas antes de "fugir"
biblinha aberta
ilusões
des "certezas"

garoa grossa e fria...
barulho de descarga
buzina ao longe
roncos...
relógios trabalham
carcaças desmaiam

cachorros latem ao longe
garoa fina e fria
carro passa
concreto molhado
coruja canta
um tiro!

despertador
raiva
cansaço
preguiça
banho
café requentado

hora de acordar

putos em ação
galo canta
transportes a funcionar
cansaço, lotação
putos em ação
manhã indesejada

carros, gritos, buzinas,
pessoas vão e vem
pessoas vão e vem
carros, gritos, buzinas,
assaltos
carros, gritos, buzinas,
carros, gritos, buzinas

fim do mundo?
provavelmente, zumbis que se vendem
denuncias gritadas pelos loucos
todos acham normal as regras do sistema
inferno?
não... apenas a Metrópolis senzala
 
Samir S. Souza
Publicado no Recanto das Letras em 26/09/2010
Código do texto: T2522139



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Um comentário:

SIMONE OLIVEIRA disse...

Fantastico como você colocou a mesma situação duas vezes e de duas maneiras. No primeiro parece que está a mostra, e o segundo é tudo em segredo, escondido.
Adorei, e realmente é um belo retrado de coisas tão normais e ao mesmo tempo tão bizarras. Um conflito entre o viver e sentir prazer e viver e o pecado e se condenar a viver a vida dos outros.
Meus parabéns