01 maio 2012

Clubinho


imagem retirada do google
CLUBINHO
Um buchicho percorria discreta e disfarçadamente entre os rapazes do fundo. Já era a última aula. Dia quente de sol irradiante e estavam todos com fome. A professora parecia estar com dor de cabeça e olhava várias vezes ao relógio.
O barulho, apesar de não parecer para quem estava dentro, era alto e ela, aquela pobre coitada em frente aqueles seres quase tão melhores quanto ela, olhava, às vezes, para toda a sala procurando identificar de qual canto vinha o barulho mais alto, mas em quase todas às vezes, não conseguia porque em cada turma uma nota mais alta era lançada para formação da sinfonia que todos estavam acostumados a ouvir: Beethoven ou Mozart?
No fundo do canto direito, um grupo – duas moças e três rapazes – jogavam, talvez o que seria truco. A professora – no início da aula - pediu para que guardassem o baralho, mas não a ouviram. Quem sabe se tentasse – pedir – um cão ou uma cadela eles perceberiam e respeitariam a presença da autoridade?
Mais ao meio, ainda no fundo, o buchicho deu lugar a pequenos risos. Ela pôde ouvir apenas que um deles estaria sozinho depois das duas e meia.
O sinal – uma sirena aguda e estridente – soou. O tempo da aula terminou.
Alguém abriu a porta: saiam todos gritando, rindo, jogando “públicas” bolinhas de papel. Alguns “tchaus” misteriosamente educados eram dados à professora que arrumava seu material. Um integrante do grupo do fundo – onde ocorria o buchicho – ofendeu debochadamente outro rapaz da classe, que sentava na frente, chamando-o de veado enquanto seus amigos – o restante da sua turma – riam e gargalhavam. A professora chamou a atenção e teve como resposta um “desculpa” qualquer.
Empurra empurra na porta para o corredor: rebanho e dentro do rebanho, horda.
14:30. Léo chegou. Buda, porém, chegou há quinze minutos com o Tigela. E como quase sempre, Mau-mau estava, ainda, para chegar.
14:45. Mau-mau estava no portão. Tigela – apenas de bermuda de futebol branca e descalço – foi abrir.
_ Já? – Perguntou Mau-mau ao olhar mais atentamente para o amigo.
_ Que nada!
Naquele exato momento, Fabiano – um dos amigo mais velho do grupo – descia a rua e cumprimentou os dois jovens com um sorriso e dizeres que insinuaram qualquer coisa que só os três poderiam entender. E entenderam.
_ Chega ae seu porra! – Tigela chamou pelo amigo.
Ele chegou mais próximo. Pegou na mão de Mau-mau e questionou qualquer coisa antes de apertar a mão de Tigela. Riram todos e ele finalmente apertou a mão do outro amigo. A conversa, ali no portão, foi rápida. Quando questionado, Fabiano confirmou a informação que casara-se semana passada e foi convidado pelo Tigela para entrar, mas não podia – estava a caminho do trabalho. Fabiano ainda dissera em tom mais baixo que agora parara com aquilo e após despedir-se dos amigos, desceu a rua.
Dentro de casa, Tigela ia à frente – pelo corredor de paredes brancas e piso de azulejo escuro. Mau-mau deixou seu tênis na porta da cozinha. Usava calça jeans, camiseta marrom estampada e ainda estava com suas meias brancas. Chegaram ao quarto – o quarto de Gabriel, o dono da casa. Este encontrava-se sentado – apenas de cueca preta – em frente ao computador cujas caixinhas de som estavam ligadas e uma música, cujas batidas eram chiados repetitivos, misturava-se aos sons plangentes que viam da televisão. Em frente a esta, estavam Buda e Léo, sentados na cama onde derramava pelas bordas um lençol branco com detalhes azuis. Este vestia bermuda estilo surfista na cor verde musgo, enquanto aquele também encontrava-se apenas de cueca – da cor branca. Todos foram cumprimentados quando entraram Tigela e Mau-mau. Estudavam todos juntos desde a quinta série e já eram quase homens feitos – pernas peludas e algumas torneadas, testículos davam volume à cueca (ou talvez fosse a peça íntima apertada), barba rala e entre outras coisas.
Risos.
Dizeres que talvez fossem uma espécie de código entre eles.
Tigela tirou sua bermuda – estava sem peça íntima. Mau-mau ficou apenas de cueca. Léo mantinha sua mão esquerda por dentro de sua bermuda. Buda ajuntou-se a Gabriel que naquele momento estava em algum chat na internet a procura de alguma garota que estivesse interessada em mostrar-se pela webcam.
O DVD já estava ligado, o filme já estava rodando. Não pareciam se preocupar um com outro. Cada um tinha o seu para cuidar. Claro que às vezes, o do outro já servira de motivo para provocarem risadas. Houve apenas uma única vez em que um deles, com permissão, chegou a encostar a um deles, mas preferiram não dar permissões novamente – tinham medo de alguma coisa. Falavam de meninas, vaginas úmidas, cheiros, paladares – que apenas um já sentira antes – pêlos, posições e movimentos.
E a reunião do clube deu seu andamento. Criaram um jogo: quem chegar mais longe ganha.
Ganha o quê? Nada. Talvez massagem para o eguinho.


Samir S. Souza
Publicado no Recanto das Letras em 28/04/2012
Código do texto: T3638528

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, fazer uso comercial da obra, desde que seja dado crédito ao autor original (Samir S. Souza - www.contoando.blogspot.com). Você não pode criar obras derivadas.

Um comentário:

Elvira Carvalho disse...

Bom desta vez não fugi de medo.rsrs. Obrigada pela publicação do meu Paulo.
Um abraço