imagem retirada do google |
CLUBINHO
Um buchicho percorria discreta e disfarçadamente entre os rapazes do
fundo. Já era a última aula. Dia quente de sol irradiante e estavam todos com
fome. A professora parecia estar com dor de cabeça e olhava várias vezes ao
relógio.
O barulho, apesar de não parecer para quem estava
dentro, era alto e ela, aquela pobre coitada em frente aqueles seres quase tão
melhores quanto ela, olhava, às vezes, para toda a sala procurando identificar
de qual canto vinha o barulho mais alto, mas em quase todas às vezes, não
conseguia porque em cada turma uma nota mais alta era lançada para formação da
sinfonia que todos estavam acostumados a ouvir: Beethoven ou Mozart?
No fundo do canto direito, um grupo – duas moças e
três rapazes – jogavam, talvez o que seria truco. A professora – no início da
aula - pediu para que guardassem o baralho, mas não a ouviram. Quem sabe se
tentasse – pedir – um cão ou uma cadela eles perceberiam e respeitariam a
presença da autoridade?
Mais ao meio, ainda no fundo, o buchicho deu lugar a
pequenos risos. Ela pôde ouvir apenas que um deles estaria sozinho depois das
duas e meia.
O sinal – uma sirena aguda e estridente – soou. O
tempo da aula terminou.
Alguém abriu a porta: saiam todos gritando, rindo,
jogando “públicas” bolinhas de papel. Alguns “tchaus” misteriosamente educados
eram dados à professora que arrumava seu material. Um integrante do grupo do
fundo – onde ocorria o buchicho – ofendeu debochadamente outro rapaz da classe,
que sentava na frente, chamando-o de veado enquanto seus amigos – o restante da
sua turma – riam e gargalhavam. A professora chamou a atenção e teve como
resposta um “desculpa” qualquer.
Empurra empurra na porta para o corredor: rebanho e
dentro do rebanho, horda.
14:30. Léo chegou. Buda, porém, chegou há quinze
minutos com o Tigela. E como quase sempre, Mau-mau estava, ainda, para chegar.
14:45. Mau-mau estava no portão. Tigela – apenas de
bermuda de futebol branca e descalço – foi abrir.
_ Já? – Perguntou Mau-mau ao olhar mais atentamente
para o amigo.
_ Que nada!
Naquele exato momento, Fabiano – um dos amigo mais
velho do grupo – descia a rua e cumprimentou os dois jovens com um sorriso e
dizeres que insinuaram qualquer coisa que só os três poderiam entender. E
entenderam.
_ Chega ae seu porra! – Tigela chamou pelo amigo.
Ele chegou mais próximo. Pegou na mão de Mau-mau e
questionou qualquer coisa antes de apertar a mão de Tigela. Riram todos e ele
finalmente apertou a mão do outro amigo. A conversa, ali no portão, foi rápida.
Quando questionado, Fabiano confirmou a informação que casara-se semana passada
e foi convidado pelo Tigela para entrar, mas não podia – estava a caminho do
trabalho. Fabiano ainda dissera em tom mais baixo que agora parara com aquilo e
após despedir-se dos amigos, desceu a rua.
Dentro de casa, Tigela ia à frente – pelo corredor de
paredes brancas e piso de azulejo escuro. Mau-mau deixou seu tênis na porta da
cozinha. Usava calça jeans, camiseta marrom estampada e ainda estava com suas
meias brancas. Chegaram ao quarto – o quarto de Gabriel, o dono da casa. Este
encontrava-se sentado – apenas de cueca preta – em frente ao computador cujas
caixinhas de som estavam ligadas e uma música, cujas batidas eram chiados
repetitivos, misturava-se aos sons plangentes que viam da televisão. Em frente
a esta, estavam Buda e Léo, sentados na cama onde derramava pelas bordas um
lençol branco com detalhes azuis. Este vestia bermuda estilo surfista na cor
verde musgo, enquanto aquele também encontrava-se apenas de cueca – da cor
branca. Todos foram cumprimentados quando entraram Tigela e Mau-mau. Estudavam
todos juntos desde a quinta série e já eram quase homens feitos – pernas
peludas e algumas torneadas, testículos davam volume à cueca (ou talvez fosse a
peça íntima apertada), barba rala e entre outras coisas.
Risos.
Dizeres que talvez fossem uma espécie de código entre
eles.
Tigela tirou sua bermuda – estava sem peça íntima.
Mau-mau ficou apenas de cueca. Léo mantinha sua mão esquerda por dentro de sua
bermuda. Buda ajuntou-se a Gabriel que naquele momento estava em algum chat na internet a
procura de alguma garota que estivesse interessada em mostrar-se pela webcam.
O DVD já estava ligado, o filme já estava rodando.
Não pareciam se preocupar um com outro. Cada um tinha o seu para cuidar. Claro
que às vezes, o do outro já servira de motivo para provocarem risadas. Houve
apenas uma única vez em que um deles, com permissão, chegou a encostar a um
deles, mas preferiram não dar permissões novamente – tinham medo de alguma
coisa. Falavam de meninas, vaginas úmidas, cheiros, paladares – que apenas um
já sentira antes – pêlos, posições e movimentos.
E a reunião do clube deu seu andamento. Criaram um
jogo: quem chegar mais longe ganha.
Ganha o quê? Nada. Talvez massagem para o eguinho.
Samir S. Souza
Publicado no Recanto das Letras em 28/04/2012
Código do texto: T3638528
Publicado no Recanto das Letras em 28/04/2012
Código do texto: T3638528
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Um comentário:
Bom desta vez não fugi de medo.rsrs. Obrigada pela publicação do meu Paulo.
Um abraço
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