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SOZINHA?
Havia chego
em casa há pouco. Estava cansada depois de um longo dia de trabalho onde
pessoas falam a todo instante e em muitos momentos quase gritavam. Precisava de
longos minutos em silêncio ou simplesmente ouvindo suas músicas favoritas em
volume baixo. Antes da música ou da televisão, foi direto para o banho. Queria
um banho quente, lavar o cabelo e sentir a sensação e o cheiro confortante do
seu creme em sua pele.
Após colocar
as coisas que levava diariamente para o serviço e sua bolsa sobre sua cama, foi
até a cozinha, abriu o armário marrom de canto de onde retirou, da parte
superior, um caneco azul, encheu-o de água e colocou no fogo para ferver.
Separou os potes onde guardava o açúcar e o pó de café e os deixou sobre o
balcão ao lado do seu fogão cookie
que tanto gostava e que demorou a adquirir.
Voltou ao
quarto, no caminho achou a casa muito silenciosa e pensou em voltar para ligar
a televisão só para fazer barulho de fundo de modo que não se sentisse
completamente sozinha. Ela, apesar de gostar do silêncio, gostava também de
estar perto das pessoas, mas precisava ser as pessoas dela. Ficou com preguiça e
não retornou para ligar o aparelho televiso. Estava muito cansada. Continuou
até o quarto onde pegou seu roupão felpudo de um rosa muito claro e foi ao
banheiro.
O banheiro
era pequeno, com uma pequena janela quadrada de madeira envernizada no tom mais
escuro. Era preciso acender a luz apesar de ainda ser início do por do sol.
Como morava sozinha, costumava deixar a porta do banheiro aberta, mas naquele
dia sentiu algo estranho. Imaginou uma sombra vinda do corredor e se formando
em frente à porta. Fechou-a, não por completo.
Tirou suas
roupas e as colocou no sexto de roupas sujas. Verificou, por algum motivo, a
calcinha bege com rendas rosa, cheirou-a e depositou no sexto. Completamente
nua, olhou para o próprio corpo diante do grande espelho e pensou consigo mesma
que poderia se depilar na semana que vem. Massageou os seios, não grande e nem
pequenos. Os bicos dos mamilos estavam apontando para frente e com o dedo
indicador, acariciou em torno da aréola delicadamente para verificar se havia
alguma forma de verruga. Aquele contato a fez ter um breve arrepio e ao olhar
para o espelho, viu a brecha da porta aberta e com dúvidas do que poderia estar
do lado de fora, mesmo sabendo que não haveria nada, cobriu o seios com a mão e
o braço, abriu a porta e colocou a cabeça para fora a verificar se realmente
não havia mais ninguém na casa. “Estou ficando paranóica” pensou.
Fechou a porta
por completo, ligou o chuveiro, deixou a água esquentar antes. Entrou
finalmente. Tomou seu banho com sabonete com cheiro de framboesa, lavou os
cabelos com xampu de queratina e enxáguo-os com condicionador fortificante de
algum óleo especial. Não queria mais sair debaixo do chuveiro; a água quente
era realmente viciosa e de olhos fechados, relaxava mais um pouco com o líquido
quente batendo em seu rosto e no coro cabeludo.
O momento
foi interrompido com o barulho do que parecia ser uma batida muito forte em uma
porta. Ela pulou de susto. Ofegante olhou para a porta do banheiro que se
encontrava fechada. Devido ao barulho do chuveiro, ela não teve certeza do que
e de onde viera aquele som. Desligou, colocou o roupão, abriu a porta e olhou
cuidadosamente para o corredor. Foi direto paro o quarto – seu quarto ficava
com a porta no final e de frente para o corredor – adentrou após verificar se haveria
alguém e fechou com a chave.
Ainda nua,
no momento em que iria colocar sua calçinha limpa, escutou outro bater na
porta, mas daquela vez, ela teve certeza de que era na porta do seu próprio
quarto. Seu coração estava em sua garganta e por isso tinha dificuldade para
respirar e consequentemente para pensar. Quase caiu com a calcinha passada
apenas por uma perna e a outra levantada. Vestiu-a o mais rápido possível,
seguida por uma calça moletom cinza e uma camiseta baby-look verde claro. Ficou em silêncio para que pudesse ouvir
qualquer coisa no corredor. Não ouviu nada.
Pensou em
ficar o resto do dia e da noite trancada no quarto, mas precisava tirar a água
do fogo para não incendiar a casa. Estava em um verdadeiro dilema. Abrir ou não
abrir a porta nessas horas?
Abriu
vagarosamente. Olhou atenta e amedrontada. Viu o vapor que saia do banheiro e
percebeu que deixara a luz acesa. Odiou si mesma por isso. E se caso ela não
tivesse esquecido? Na ponta dos pés, descalça, começou a caminhar – passo a
passo lentamente – para não fazer barulho: coisas que vemos em filmes e,
inconscientemente, reproduzimos. Olhou cuidadosamente para dentro do banheiro e
sentiu que alguém a observava de dentro do seu quarto. Era como se houvesse a
metade da cabeça de alguém: apenas um olho, metade do nariz, metade da boca,
uma orelha e os cabelos pretos. Não queria pensar muito. Desligou a luz do
banheiro e seguiu o corredor em direção à cozinha.
A água
evaporou-se um pouco, borbulhava dentro do caneco e as grades pretas do fogão
estavam levemente vermelhas. Quase se queimou com o cabo do recipiente que
aquecera demais. Um barulho maior do que os dois primeiros. Pensou que seu
coração realmente sairia pela sua boca. Deixou o caneco sobre a pia e correu
para ver o corredor. A imagem de alguém a observando de dentro de seu quarto
retornou a sua mente. Viu que, ora porta do quarto, ora porta do banheiro
estavam fechadas. Bateram juntas sincronizadamente. Achou estranho, pensou em
ligar para alguém, mas deixara o celular no quarto.
Ela não
vira, mas havia uma sombra em frente à geladeira branca com detalhes azuis que
ficava a beira do corredor. Foi até a pia e começou a passar o café. De costas,
realmente havia metade de um rosto, apenas uma banda dele, de olhos bem abertos
e pretos. Observava-a em
silêncio. Ela sentiu olhos em suas costas e olhou para trás,
mas não viu ninguém. Virada para janela da cozinha sobre a pia, tentava olhar
para o quintal para averiguar se poderia ter alguém do lado de fora. O rosto
ainda estava lá, por detrás da lateral da geladeira. Enquanto ela olhava para
fora, lentamente o rosto foi subindo e fazendo o contorno e deixando apenas a
parte de cima da cabeça por cima da geladeira. Não poderia ser humano aquilo.
Tantos os olhos quantos os cabelos eram negros e estes, não muito longos,
escorriam uma franja nojenta e sinistra.
Enquanto a
água fervente escorria por entre o pó e caía dentro do bulo lustroso, ela
virou-se e foi até a geladeira para pegar leite. O rosto sinistro não estava
mais lá. Colocou um pouco dentro de outra caneca menor de cor preta e depositou
sobre o fogão. Girou o liberador de gás e apertou o acendedor de faísca. No
mesmo instante a televisão ligou sozinha. O volume estava alto e ela se
assustou de modo que acreditou, por alguns segundos, que realmente havia alguém
dentro de sua casa e que as vozes não vinham do aparelho. Sua cabeça virou-se
imediatamente em direção à sala. Viu que a televisão estava ligada e por alguns
segundos sentiu alívio pelas vozes não serem ao vivo, mas seu relaxamento durou
muito pouco, logo se questionou o motivo do aparelho ligar sozinho.
Foi até ao
aparelho, apontou à TV e diminuiu o volume e trocou de canal – para um que
exibia apenas vídeos clipes. Escutou um chiado e soltou um palavrão por que sabia
o que aquele som indicava: o leite que estava para esquentar tornou e ela
detestava limpar o fogão. Correu e desligou o fogo. Enquanto torcia um pano
sobre a pia para então começar a breve limpeza, a televisão desligou-se. Ela
não limpou mais o fogão. Olhou de volta para a sala, apertou o interruptor da
cozinha e a lâmpada desta acendeu o que indicava, para ela, que não havia queda
de energia.
Ela não
sabia e nem podia ver naquele momento, mas no corredor para o seu quarto, havia
alguém ou alguma coisa. Estava parada, em pé.
Em relação
ao aparelho televiso, ela preferiu acreditar que fosse algum mau contato.
Serviu-se de café com leite e biscoitos. Sentou-se no sofá. Apontou mais uma
vez para a TV e ela se ligou e novamente ela se assustou completamente. O
volume do aparelho estava muito alto e o canal era outro: passava um programa
sobre acontecimentos sobrenaturais segundo o vaticano.
Ele cuidou
de abaixar o volume rapidamente, mas estranhou, tanto pelo fato do volume
quanto do canal, já que sua TV se mantinha “a mesma” depois de desligar e
ligá-la de novo. Ela sabia, só não queria assumir para si mesma que havia
alguma coisa de errado.
O que
estivera em pé no corredor, seja lá o que era não estava mais. E naquele final
de tarde até metade da noite, nada de estranho acontecera novamente e ela
acabou esquecendo os arrepios que sentia de vez em vez e também as coisas
estranhas que achara ter visto.
Assistiu as
suas novelas favoritas e foi dormir.
******
A porta do
banheiro estava aberta – a luz do corredor também ligada – enquanto escovava os
dentes. Tinha o costume de se olhar no espelho enquanto esfregava a escova em
seus dentes e costumava também, após cuspir a espuma, abrir um largo sorriso
falso para verificar, talvez, o quanto os dentes ficaram mais brancos. Inclinada
sobre a cuba com uma das mães em formato de concha para levar a água que cai da
torneira, uma sombra passou pelo corredor em direção ao quarto. Ela não
percebeu.
Gargarejou,
cuspiu e de repente sentiu um frio entrar pela porta do banheiro. Era como uma
rajada de vento que dançava exatamente em sua direção. Olhou para o corredor e
percebeu que a porta do banheiro mexia-se um pouco devido ao vento. A janela do
banheiro encontrava-se fechada. Preferiu achar que não era nada. Secou-se na
pequena toalha verde musgo que estava pendura próximo ao espelho e assustou-se
ao notar que esteve estava embaçado. A água do lavatório era fria e o vapor do
chuveiro já havia se dissipado. Talvez, no fundo, ela sabia o que estava
acontecendo, mas como estava sozinha e não passava pela sua cabeça algum lugar
para onde ir, tentava convencer a si mesma de que tudo aquilo era normal e que
já acontecera antes.
De dentro do
banheiro, ela não podia ver a criatura que estava parada no final do corredor
em direção à cozinha. Era baixa, cabelos negros longos, pele muito branca. Os
olhos eram muito grandes e escuros como quem usa maquiagem e esta está borrada
e escorre pelos olhos.
Desligou a
luz, e ao sair, olhou primeiramente para a cozinha onde as luzes estavam
desligadas – da cozinha e da sala – mas podia ver parte do sofá iluminado pela
luz do corredor. Sentiu, novamente, o vento gélido soprar de trás. Virou-se
para dentro do banheiro para verificar, mais uma vez, se a janela estaria mesmo
fechada, e estava. Apressou-se e antes de entrar no quarto, desligou a luz do
corredor. Não teve coragem de olhar para traz porque imaginava alguém no escuro
observando-a, e de certa forma, seu instinto estava certo. Ela não olhou, mas
ao desligar a luz antes de fechar a porta do quarto, dentro do escuro, uma
silhueta mais escura mantinha-se em pé próxima à porta do banheiro.
*******
Arrumou a
cama antes de se deitar. Colocou sua bolsa e as coisas do serviço sobre uma
pequena escrivaninha no canto do quarto, onde estava um notebook aberto, mas
desligado. Guardou duas ou três peças de roupas no guarda-roupa branco com um
enorme espelho na porta. Lembrou-se de uma superstição antiga que sua mãe
costuma falar sobre dormir com guarda-roupas de portas abertas e cuidou de
fechar as portas do seu.
Antes de
desligar a luz do quarto, pensou se realmente não conseguiria dormir na
claridade. Estava com medo de ter que andar no escuro, mesmo que por menos de
dois metros de distância, após apertar o interruptor, deitar e se cobrir.
Dentro desses segundos, que poderiam se tornar segundos-eternos, haveriam chances de acontecer qualquer ou muita
coisa. Apertou o botão. Escuridão total. Correu até a cama e cobriu-se o mais
rápido que possível.
Virada para
a janela, imersa dentro da escuridão e do silêncio fantasmagórico das noites,
ela tinha dificuldade para encontrar uma posição confortante que a levasse para
o mundo enigmático dos sonhos. Passaram-se cerca de dez minutos após ter se
deitado e cinco que adormecera. Acordou assustada: era uma paralisia do sono.
Seus olhos ficaram poucos segundos abertos e logo se fecharam enquanto se
contorciam para trás mostrando a parte do globo branco ocular. Tentava abri-los,
mas não conseguia. Tentou gritar por alguém, mas não era capaz de emitir
qualquer som. Uma gota de lágrima começou a escorrer pelo rosto enquanto seu corpo
não a obedecia. Ela tentou usar toda a força e coragem que possuía para que
pudesse sair daquele estado de impotência diante do que talvez possa ser o
portal da realidade para o mundo dos sonhos. Um arrepio tomou conta de suas
costas e correu pelos braços. Paradoxalmente, era capaz de sentir o frio
mórbido, mas era incapaz de sentir seus braços e pernas. Queria poder mexer
qualquer parte do seu corpo porque assim acreditava que sairia daquela
experiência horrenda e sinistra.
Assim como
veio, de repente se foi. Estava um pouco tonta, mas ficou com preguiça de
levantar para beber água já que sentiu secura. Preferiu fechar os olhos e pedir
para Deus para que pudesse dormir o mais rápido possível porque teria que
acordar cedo para ir trabalhar. Escutou barulho de interruptor e preferiu
acreditar que seria qualquer outra coisa que soava similarmente. De repente,
sentiu um peso absurdo sobre o seu corpo; era como ser alguém a empurrasse
contra o colchão. Ela sabia que aquilo não era mais paralisia porque nunca
havia sido daquele jeito antes. Alguma coisa pressionava-a e parou tão rapidamente
que ela teve dúvidas se realmente havia acontecido. Queria levantar-se, porém,
seu medo era maior. Medo de ver qualquer coisa que pudesse estar dentro do
escuro.
Escutou,
mais uma vez, um barulho que não pôde identificar o que era. A primeira coisa
que passou pela cabeça foi de que alguém invadira sua casa e isso significaria
qualquer tipo de violência contra ela e, se tivesse sorte, roubaria tudo o que
quisesse, mas que a deixaria em paz em seu quarto, na ilusão de que ela não
teria escutado nada. Esse, no entanto, não era o caso.
Escutou
alguém correr no corredor. Seus olhos arregalaram-se enquanto seus ouvidos,
atentos, marcavam cada pisada daquela corrida que parou. A porta do banheiro
bateu fortemente. Um susto misturado a um novo tipo de arrepio percorreu por
todo o seu corpo. O coração batia acelerado e ela estava ofegante. Escutou a
porta do banheiro ranger ao abrir lentamente. Olhou cuidadosamente para trás em
direção à porta do seu quarto que ela deixara fechada. Os passos apressados ecoaram
novamente e ela se virou de volta para a janela. Queria estar dormindo
profundamente porque, se fosse o caso, morreria sem perceber.
Houve então,
três batidas seguidas na porta do cômodo no qual se encontrava. Estava cada vez
mais difícil respirar. Outro barulho de interruptor – naquele momento ela
conseguiu identificar que se tratava mesmo de um interruptor. Cobriu-se por
completa enquanto sentia sua respiração quente abafá-la por baixo do cobertor.
Ela queria gritar, mas sua voz havia se voltado para dentro de suas entranhas
deixando apenas um inchaço na garganta que usava toda sua força para fazer
barulho enquanto os olhos lacrimejavam olhando para todas as direções dentro da
escuridão. Silêncio.
Lentamente,
ela começou a sentir um peso sobre o colchão na ponta dos seus pés –
encolheu-os. Tentava chorar, no entanto, ainda era muito difícil. Seu cobertor
deslizou vagarosamente para a ponta da cama como se alguém o puxasse. O arrepio
paralisou-a enquanto ficava, ao poucos, descoberta. Estava encolhida com os
joelhos grudados no seu peito e testa apoiada nos joelhos. Tremia muito e seus
olhos, apesar de escorrerem lágrimas, estavam fechados de modo que parecia que
ela fazia muita força para mantê-los daquele jeito.
Uma figura
coberta surgia em pé, na ponta da cama dela. Ela de olhos fechados, com
arrepios e apenas sentindo a presença de alguma coisa. Não era possível saber
se o que estava por debaixo do cobertor era humano ou não.
Uma explosão
tomou conta do corpo daquela moça que se encontrava completamente sozinha. Seus
olhos abriram ao mesmo tempo em que sua boca conseguiu gritar e seu corpo
saltou da cama. O cobertor murchou-se em sua frente no mesmo instante em que se
pôs de pé e ela só foi capaz de perceber o que acontecia quando viu o cobertor
pousava-se sobre o chão. Era como se o ar por debaixo do pano havia sumido de
repente. Ela correu. A porta do quarto estava fechada. Abriu-a com força.
O corredor
estava completamente vazio e escuro. Havia a luz da noite que entrava pela
janela do banheiro e pelas janelas da cozinha e da sala. Correu, sem pensar,
pelo corredor. Gritava, apenas gritava sem dizer qualquer palavra. Passou, pela
sala, direto para a porta e viu o que parecia ser a sombra de uma pessoa em pé,
na parede próxima à televisão. Isso a fez gritar mais e, instintamente, olhou
em qualquer direção para ver quem projetava aquela imagem na parede, mas não
havia mais ninguém ali com ela. Devido ao desespero, teve dificuldade em abrir
a porta da sala.
Correu pelo
quintal onde todas as luzes estavam desligadas. Abriu o portão e talvez ela nem
seria capaz de dizer o quão rápido ela o fez. Gritava pela vizinha ao lado.
Estava completamente desesperada – uma louca.
Após a luz
da garagem acender, o que deu um pouco de conforto àquela moça que estava em completo
desamparo, sua vizinha saiu seguindo seu marido. Estavam com olhos vermelhos,
mas muito assustados. Cachorros latiam devido à gritaria.
_ O que foi?
O que está acontecendo?
_ Tem alguém
na minha casa! Socorro!
Fizeram-na
entrar. Trancaram a porta e enquanto sua vizinha colocava água no fogo para
fazer um chá, seu marido pegava o telefone para ligar para a polícia. Ele
hesitou logo depois de ouvir as palavras da vizinha que não pareciam fazer
sentido. Ele estava certo de que ela tivera um sonho, daqueles que parecem
muito reais e a convidou a ir à casa dela para verem se ainda teria alguém lá.
Foram os três.
Já era quase
cinco horas da manhã e todos, logos, teriam que trabalhar.
Foram até a
casa da vizinha. Todas as luzes encontravam-se desligadas. Ele notou que não
havia nenhum sinal de arrombamento e todas as janelas possuíam grades. Era
impossível alguém ter entrada durante a noite. Os vizinhos a acalmaram e
voltaram para casa para se arrumarem para enfrentar o dia de luta.
Ela ficou
sozinha, mas com as luzes ligadas e a porta da sala aberta. Não tomou banhou porque
ainda sentia-se insegura e trocou de roupa na sala mesmo. Não queria ficar no
quarto. Fez tudo muito rápido. Deixou para escovar os dentes no serviço,
amarrou o cabelo e, sem arrumar nadar na casa, saiu.
******
Ela se
lembrou do que acontecera durante a noite, poucas vezes durante o seu dia. O
trabalho era bom porque servia como distração. Não comentou com ninguém o que
acontecera. Falou apenas em pesadelo, mas logo mudou de assunto para não sentir
medo de voltar para casa.
No final do
dia, já conformada de que tudo não passara de um pesadelo e um pouco envergonhada
dela mesma, chegou em casa.
Ela não
sabia. Não tinha como ver, mas no momento em que colocou a chave na fechadura.
O cobertor que estava – na sala – suspenso no ar formando uma figura, caiu
sobre o tapete.
Ela o viu
apenas sobre o chão. Não se lembrava de ter trazido para sala. Ficou com medo.
Entrou – sorriu para si mesma e tentou si convencer de que todos fazem coisas
das quais não lembram – e após sentir um forte arrepio, fechou a porta.
Samir S. Souza
Publicado no Recanto das Letras em 05/11/2016